Aos mergulhados no mundo vermelho

Aos mergulhados no mundo vermelho
Sejam bem vindos ao centro da minha alma

sábado, 23 de julho de 2011

Só mais um blablablá...

Eu via um corpo caído no asfalto, de bruços, rosto voltado ao chão.
Um sol impiedosamente quente lhe queimava as costas nuas. O sofrimento parecia invisível com aquele estado inerte de mover somente as mãos.
Era o auge do calor, meio dia de castigo. O sol não parecia se importar, tão alheio em suas alturas. Também não havia quem passasse e percebesse o individuo caído ali. Aquela pessoa estava sozinha, fora do socorro de qualquer um.

Fique ali por horas, observando tudo aquilo sem conseguir me aproximar. Mal podia me mover, aquela visão era como hipnotismo para mim.

Me perguntava porque não levantar ou arrastar-se para a sombra. Sera tamanha exaustão?
Virei então meu rosto para  céu e o vi ficando escuro, as estrelas vinham aos milhares num passo apressado invadindo a escuridão, uma brisa gelada chocou-se contra meu corpo quente e me voltei novamente para o corpo na estrada. Ele tremia. Não sei se de frio ou por outra coisa. Decidi considerar que fosse pelo choque térmico causado pelo abrupto e gélido anoitecer.

Notei então movimento, o corpo começou a se virar. A escuridão da noite pouco me deixava ver, apenas sabia que ele estava olhando as estrelas agora. Rosto na penumbra, voltado para cima. Não podia ver nitidamente sua face mas sabia que ele estava olhando para cima. Visão aquela que também me convidava, não, que me enfeitiçava e me atraía.

Era um convite mudo ou uma inveja minha? Era tão alto, tão bonito longe do meu chão.
Pensei em gritar para as estrelas, elas estavam tão longe... Tive inveja delas, tive pena daquele caído ali. Meus olhos marejavam mas as lágrimas não desciam.

A noite era mais longa do que o dia e mesmo assim eu não saberia dizer qual tortura era maior, se o escaldo do sol ou o frio arrastado da escuridão. Ambos me traziam grande sentimento de inveja, sim, verdadeira inveja. Inveja do sol, tão alto e forte, inveja das estrelas tão fora dali. Todos habitavam fora do meu mundo, essa era a minha maior inveja: estar fora dali.

Suspirei profundamente e o ar entrou ferindo meus pulmões com sua baixa temperatura. Eu o aperei dentro do peito, o impedi de sair. Meu desejo era não mais respirar aquilo ali. E perdida eu olhei em volta e a unica coisa que via era uma estrada vazia. Não havia mais corpo, não havia nada. E no céu inaudível existiam as estrelas. Eu existia tão inaudível quanto elas. Existia e não vivia. O ar preso em meus pulmões rompeu minha garganta num triste soluço. Um soluço de choro que não ia sair.

Eu deitei na estrada, senti o sol vir nascendo lentamente esquentando minhas costas. Me deixei ficar ali só sentindo seu calor me castigar. EXISTO por mais um dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário